EU E CAMPOS DE CARVALHO
Para Newton Santana
Meu professor de artes sempre nos instiga que é preciso aprender a olhar. A metafísica do olhar! Ele me pede ousadia: desmoronamento do que estava acomodado. Insinua que subjetivamente somos maleáveis como a terra que manipulamos. Insinua, inclusive, que sou capaz da intervenção na argila e ou na pedra. Deve estar maluco o homem. Deveria ter desconfiado quando me matriculei pensando em finalidades terapêuticas; a arte exige mergulhos na nossa própria subjetividade e no que se estabelece como coletivo. O soco no estômago.
Penso que meu professor de artes é um desses homens que aprendeu a olhar. Mas por que não compartilha atalhos? Entendo que é preciso driblar o que já se estabeleceu e reinventar o olhar, reconduzir a maneira com que vejo, transcendendo os objetos e os próprios conceitos sobre eles e o mundo. Não adianta contar apenas com a engenharia das sinapses se a mecânica da harmonia estética exige outras batalhas, das quais, desconfio, nunca mais conseguirei me desvencilhar. Poderia alienar-me, distraidamente, enfiando minhas mãos numa revista de moda ou Caras (ou sonhando com a vitória de um time nos campeonatos de futebol) ao invés de argila, pedra e palavras. Por que, então, persisto com a literatura e com essas novas experiências?
Houve uma época em que me diziam: se queres ser psicóloga, é imprescindível saber escutar. Estou até hoje tentando afiar os ouvidos!
Em meu íntimo, Campos de Carvalho me provoca: “Aos 16 anos matei meu professor de lógica. Invocando a legítima defesa – e qual defesa seria mais legítima? – logrei ser absolvido por cinco votos contra dois, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris”. Bela dica! Preciso também assassinar a lógica, e assim entrar (o que já se faz compulsório em mim) no universo da imaginação, da criação e do absurdo.
Penso no risco ao qual me submeto, enquanto ouço-me tocar a campainha para mais uma aula no ateliê da rua Teodoro Sampaio.
sábado, 23 de maio de 2015
Crônica da minha queridíssima aluna Eltania André
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